Foto: Gabriel Nielsen
A Copa do Mundo de 2014 tem gerado polêmica, desde que
foi anunciado que o Brasil sediará o evento.
Há diversas discussões em veículos de comunicação e nas
redes sociais, onde a maior preocupação é se o Brasil estaria realmente
preparado para sediar esse evento.
Com bacharel em direito, formado pela PUC e com uma
carreira de 21 anos como Delegado de Polícia no Estado de São Paulo, Jorge
Lordello tornou-se referência na televisão brasileira, onde é reconhecidamente
uma das maiores autoridades em segurança pública e privada do país.
Conhecido como Doutor Segurança, o especialista relata
peculiaridades do Brasil, no que diz respeito à segurança pública, e dá dicas
para as pessoas que frequentarão os jogos.
Doutor,
em sua opinião, São Paulo têm estrutura em segurança pública para sediar um
evento como a Copa de 2014?
Sim, a Secretaria de Segurança Pública e o Governo de São
Paulo vêm se preparando para isso. As polícias já montaram comissões para poder
atender eventos dessa natureza.
Nós sabemos que em São Paulo já teve eventos de grande porte
e o Rio de Janeiro também. Na época houve muitos problemas no Rio de Janeiro
antes da UPP, mas pelo acúmulo de policiais e as estruturas montadas, eu
entendo que não teremos nenhum risco.
Mas
se não temos até hoje uma segurança pública de qualidade, o que levaria o
governo a crer que isso será possível daqui a dois anos?
O exemplo mais interessante e real aconteceu no Rio de
Janeiro, onde tivemos um evento de grande porte e ainda não havia a UPP, ou
seja, os morros da zona sul do Rio de Janeiro ainda estavam ocupados por
traficantes, mas o quê aconteceu? O grande acúmulo de concentração de policiais
nas ruas e até mesmo o exército, fez com que lá não tivesse praticamente
nenhuma ocorrência de roubo.
Na verdade, quando o Estado se organiza, principalmente
naquelas áreas onde haverá trânsito de turistas e esportistas, entendo que poderá
sim oferecer uma boa segurança, eu acredito que será um evento bem tranquilo.
Você
acredita que as pessoas têm consciências dos riscos que se intensificam a
partir de eventos como esses?
Ao fazer uma viagem é muito importante que as pessoas analisem
o local. Cada lugar acaba tendo seu problema.
Eu sempre faço palestras no Rio de Janeiro e muitas vezes
encontro chineses de chapéu, uma roupa característica e andando na praia com
uma máquina fotográfica de alto padrão. Ali eventualmente pode acontecer um
problema, pois essa pessoa está caracterizada exatamente como turista.
Então quando você se interessa mais em saber hoje pelo
Google, que é muito mais fácil, o que está acontecendo no país de destino é
óbvio que acabará se prevenindo. Isso é muito importante e a internet está aí
para complementar.
Qual
o papel da população, para poder evitar problemas de segurança e se sentirem um
pouco mais seguras ao assistirem os jogos?
Nós temos que dividir a segurança em duas partes, uma
pública, que é dever do Estado e a outra segurança pessoal, ou seja, cada
cidadão pode ter atitudes seguras no dia-a-dia e fazer a sua autoproteção.
Ocorre que muitas pessoas são desatentas em relação à sua
segurança o que acaba ocasionando uma situação de risco.
Por exemplo: hoje no Brasil o objeto mais subtraído é o
celular. Podemos verificar que muitas vezes em um bar, academia, casa noturna,
as pessoas deixam o celular em cima de uma mesa. Por ser um local onde a
polícia não tem acesso, pois não fazem ronda nesses estabelecimentos, a muita
sobtração desses aparelhos.
Claro, temos que cobrar da polícia sempre o melhor
trabalho, mas cada cidadão deve, também, fazer sua parte.
A
FIFA prevê a integração entre a polícia militar e a segurança pública, onde
dentro dos estádios agirá a segurança privada e fora, a polícia militar. Você
considera essa integração um modelo adequado para São Paulo?
Essa integração já está existindo, há um trabalho em
comum acordo entre as duas polícias, que serão voltados para esse evento da
Copa do Mundo de 2014, mas outro dado interessante também é que a guarda
municipal acaba participando.
Nós vamos ter em São Paulo, um grande volume de câmeras
de segurança que já estão sendo instaladas e monitorará a cidade, em locais
específicos, isso acaba gerando uma integração importante.
No que diz respeito à segurança privada, eu tenho
absoluta certeza que os hotéis, trânsito, empresas, entro outros, se utilizam
da segurança privada, fato que é muito comum nos E.U.A, então se você somar,
todas essas forças, entendo que teremos um ponto positivo para a segurança na
cidade.
Quais
os maiores obstáculos que o setor de segurança pública enfrentará na Copa de
2014?
É o obstáculo que nós já estamos sofrendo hoje, é a
questão da burocracia da legislação, que é muito frágil. Muito se cobra da
polícia, mas sabemos que em muitas prisões, a justiça, baseando-se sempre na
lei, acaba soltando os indivíduos, pois essas pessoas muitas vezes têm direito
de responder por crimes em liberdade, e nós entendemos que a legislação penal
do Brasil, não traduz um sentimento de punição que verificamos em outros
países.
Em
uma situação, onde o turista é assaltado, o quê ele deve fazer, quais atitudes
ele deve tomar?
Em São Paulo, nós já temos a Delegacia de Atendimento ao
Turista, ela terá um papel fundamental no atendimento a esses turistas.
Há também, um trabalho de orientação aos hotéis, para que
transfiram aos turistas, algumas medidas importantes de segurança.
De qualquer forma, muitas vezes em um caso de assalto, o
turista pode não conseguir localizar essa delegacia especializada, mas qualquer
policial que o atender, deve levá-lo até o local, pois lá, podemos encontrar
policiais que falam várias línguas e farão um atendimento com maior rapidez.
Para
as pessoas que frequentarão os jogos, o quê eles devem ou não levar para o
estádio, como por exemplo: um valor X em dinheiro, quais documentos, objetos
entre outros?
Primeiramente, devem tomar cuidado com os celulares e não
carregá-los a amostra, pois muitas pessoas têm o hábito de carregar esse objeto
na mão, no pescoço ou até mesmo no cinto da calça e isso o marginal acaba observando.
Os celulares devem ficar bem guardados, pois como eu disse, é o aparelho mais subtraído
no Brasil.
As pessoas podem também, ao ir a um jogo, organizar sua
carteira, carregando apenas os documentos necessários.
No caso dos turistas, como ele utilizará o transporte
público, ele pode tirar um Xerox do seu passaporte e não carregar o original,
pois se perdê-lo pode gerar uma série de problemas.
Evitar também, carregar muitos cartões e levar apenas uma
quantia necessária de dinheiro para fazer seus pagamentos.
São atitudes muito simples que pode minimizar os riscos
de uma abordagem.
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