segunda-feira, 18 de junho de 2012

Desafios da segurança pública na Copa do Mundo de 2014


                                                           Foto: Gabriel Nielsen



A Copa do Mundo de 2014 tem gerado polêmica, desde que foi anunciado que o Brasil sediará o evento.
Há diversas discussões em veículos de comunicação e nas redes sociais, onde a maior preocupação é se o Brasil estaria realmente preparado para sediar esse evento.
Com bacharel em direito, formado pela PUC e com uma carreira de 21 anos como Delegado de Polícia no Estado de São Paulo, Jorge Lordello tornou-se referência na televisão brasileira, onde é reconhecidamente uma das maiores autoridades em segurança pública e privada do país.
Conhecido como Doutor Segurança, o especialista relata peculiaridades do Brasil, no que diz respeito à segurança pública, e dá dicas para as pessoas que frequentarão os jogos.

Doutor, em sua opinião, São Paulo têm estrutura em segurança pública para sediar um evento como a Copa de 2014?
Sim, a Secretaria de Segurança Pública e o Governo de São Paulo vêm se preparando para isso. As polícias já montaram comissões para poder atender eventos dessa natureza.
Nós sabemos que em São Paulo já teve eventos de grande porte e o Rio de Janeiro também. Na época houve muitos problemas no Rio de Janeiro antes da UPP, mas pelo acúmulo de policiais e as estruturas montadas, eu entendo que não teremos nenhum risco.

Mas se não temos até hoje uma segurança pública de qualidade, o que levaria o governo a crer que isso será possível daqui a dois anos?
O exemplo mais interessante e real aconteceu no Rio de Janeiro, onde tivemos um evento de grande porte e ainda não havia a UPP, ou seja, os morros da zona sul do Rio de Janeiro ainda estavam ocupados por traficantes, mas o quê aconteceu? O grande acúmulo de concentração de policiais nas ruas e até mesmo o exército, fez com que lá não tivesse praticamente nenhuma ocorrência de roubo.
Na verdade, quando o Estado se organiza, principalmente naquelas áreas onde haverá trânsito de turistas e esportistas, entendo que poderá sim oferecer uma boa segurança, eu acredito que será um evento bem tranquilo.

Você acredita que as pessoas têm consciências dos riscos que se intensificam a partir de eventos como esses?
Ao fazer uma viagem é muito importante que as pessoas analisem o local. Cada lugar acaba tendo seu problema.
Eu sempre faço palestras no Rio de Janeiro e muitas vezes encontro chineses de chapéu, uma roupa característica e andando na praia com uma máquina fotográfica de alto padrão. Ali eventualmente pode acontecer um problema, pois essa pessoa está caracterizada exatamente como turista.
Então quando você se interessa mais em saber hoje pelo Google, que é muito mais fácil, o que está acontecendo no país de destino é óbvio que acabará se prevenindo. Isso é muito importante e a internet está aí para complementar.

Qual o papel da população, para poder evitar problemas de segurança e se sentirem um pouco mais seguras ao assistirem os jogos?
Nós temos que dividir a segurança em duas partes, uma pública, que é dever do Estado e a outra segurança pessoal, ou seja, cada cidadão pode ter atitudes seguras no dia-a-dia e fazer a sua autoproteção.
Ocorre que muitas pessoas são desatentas em relação à sua segurança o que acaba ocasionando uma situação de risco.
Por exemplo: hoje no Brasil o objeto mais subtraído é o celular. Podemos verificar que muitas vezes em um bar, academia, casa noturna, as pessoas deixam o celular em cima de uma mesa. Por ser um local onde a polícia não tem acesso, pois não fazem ronda nesses estabelecimentos, a muita sobtração desses aparelhos.
Claro, temos que cobrar da polícia sempre o melhor trabalho, mas cada cidadão deve, também, fazer sua parte.

A FIFA prevê a integração entre a polícia militar e a segurança pública, onde dentro dos estádios agirá a segurança privada e fora, a polícia militar. Você considera essa integração um modelo adequado para São Paulo?
Essa integração já está existindo, há um trabalho em comum acordo entre as duas polícias, que serão voltados para esse evento da Copa do Mundo de 2014, mas outro dado interessante também é que a guarda municipal acaba participando.
Nós vamos ter em São Paulo, um grande volume de câmeras de segurança que já estão sendo instaladas e monitorará a cidade, em locais específicos, isso acaba gerando uma integração importante.
No que diz respeito à segurança privada, eu tenho absoluta certeza que os hotéis, trânsito, empresas, entro outros, se utilizam da segurança privada, fato que é muito comum nos E.U.A, então se você somar, todas essas forças, entendo que teremos um ponto positivo para a segurança na cidade.
Quais os maiores obstáculos que o setor de segurança pública enfrentará na Copa de 2014?
É o obstáculo que nós já estamos sofrendo hoje, é a questão da burocracia da legislação, que é muito frágil. Muito se cobra da polícia, mas sabemos que em muitas prisões, a justiça, baseando-se sempre na lei, acaba soltando os indivíduos, pois essas pessoas muitas vezes têm direito de responder por crimes em liberdade, e nós entendemos que a legislação penal do Brasil, não traduz um sentimento de punição que verificamos em outros países.

Em uma situação, onde o turista é assaltado, o quê ele deve fazer, quais atitudes ele deve tomar?
Em São Paulo, nós já temos a Delegacia de Atendimento ao Turista, ela terá um papel fundamental no atendimento a esses turistas.
Há também, um trabalho de orientação aos hotéis, para que transfiram aos turistas, algumas medidas importantes de segurança.
De qualquer forma, muitas vezes em um caso de assalto, o turista pode não conseguir localizar essa delegacia especializada, mas qualquer policial que o atender, deve levá-lo até o local, pois lá, podemos encontrar policiais que falam várias línguas e farão um atendimento com maior rapidez.

Para as pessoas que frequentarão os jogos, o quê eles devem ou não levar para o estádio, como por exemplo: um valor X em dinheiro, quais documentos, objetos entre outros?
Primeiramente, devem tomar cuidado com os celulares e não carregá-los a amostra, pois muitas pessoas têm o hábito de carregar esse objeto na mão, no pescoço ou até mesmo no cinto da calça e isso o marginal acaba observando. Os celulares devem ficar bem guardados, pois como eu disse, é o aparelho mais subtraído no Brasil.
As pessoas podem também, ao ir a um jogo, organizar sua carteira, carregando apenas os documentos necessários.
No caso dos turistas, como ele utilizará o transporte público, ele pode tirar um Xerox do seu passaporte e não carregar o original, pois se perdê-lo pode gerar uma série de problemas.
Evitar também, carregar muitos cartões e levar apenas uma quantia necessária de dinheiro para fazer seus pagamentos.
São atitudes muito simples que pode minimizar os riscos de uma abordagem.

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